sábado, 30 de abril de 2011

Quadrinhos, Teatro e Baiacus

“Eu não me considero um roteirista. Eu me considero um diretor que escreve os seus próprios roteiros”. Assim que Paulo Biscaia Filho define seus roteiros de teatro, cinema e quadrinhos. Paulo é diretor e roteirista que escreve sobre a ótica da verdade, segundo ele mesmo diz “... é a forma como eu vejo o mundo, mesmo que você não queira. Eu procuro não mentir, se é abstrato, desconstruído é assim que vejo”.

A história de Biscaia é curiosa. Professor de Cinema e Teatro da Faculdade de Artes do Paraná acabou desviando o caminho para o teatro, pois sempre desejou fazer mesmo cinema. Em 1999, comprou uma câmera digital e um computador que pudesse editar e, começou a fazer experimentações caseiras. Entretanto não foram as primeiras incursões dele na grande tela, “já fiz alguns vídeos publicitários, alguns foram premiados, curtas e outras produções e acabei encontrando um lugar bem bacana entre o teatro e o cinema”.

Ele ficou quatro anos sem produzir nada para o teatro. Quando apareceu um edital para produção de um longa metragem, o seu primeiro longa de 2008, intitulado Morgue Story - Sangue, Baiacu e Quadrinhos segue a estética da Vigor Mortis. Sangue, suspense e diversão.   O longa envolve três personagens: Ana Argento, uma bem sucedida desenhista de história em quadrinhos; Tom, um vendedor de seguros cataléptico  e Doutor Daniel Torres, um médico legista. Em Morgue Story as histórias dos personagens se cruzam de maneira insólita na trama.

 Para citar a forma com a qual concebe seus roteiros Biscaia recorre à impressão que obteve Kevin Smith. Ao ver pela primeira vez Cães de Aluguel, do diretor Quentim Tarantino, Kevin em tom de abismo exclamou “ah! Isso pode, eu posso falar disso, tá liberado então”. A partir dessa visão Biscaia encara a liberdade de criação como uma ampla proposta para a escrita e interpretação, “isso é o que me interessa”.

As Morgues Storys de Biscaia receberão uma versão para quadrinhos com novas histórias para os seus personagens. A revista conta histórias que antecedem a peça de teatro. O convite surgiu de José Aguiar e DW que já fizeram alguns trabalhos com Paulo, “achei o convite muito lisonjeiro... Foi uma espécie de retorno, eles estavam entrando na minha área e eu na deles”. Ele achou o desafio divertido de transpor a linguagem de teatro para o roteiro de uma história em quadrinhos. “Quando você discute com o ator sobre o que o personagem tem além do que está escrito, o que está fora do roteiro, este além que nós procuramos explorar nos quadrinhos”.

A convergência das artes esta presente na obra de Paulo Biscaia Filho. Ele não para tem vários projetos em andamento, além da incursão audiovisual Nevermore: Três pesadelos e um delírio, baseado na obra de Edgar Allan Poe. O lançamento da peça As Algemas de Houdini, outra peça sobre a história do contista pornográfico Carlos Zefiro e para fechar a conta, a filmagem de mais um longa de nome Nervo Craniano Zero. Mostrando a elasticidade e convergência de Biscaia.

Mario Luiz
Roteirista - Coronel Claquete

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Roteirista e o Roteiro Vol. I

Quem deseja ser roteirista precisa de duas coisas, a primeira um bom enredo e a segunda por no papel este enredo. Claro que vamos pular está parte correlata ou inerente à função que é ler bastante, ter senso de observação, conhecimento técnico sobre o assunto e, por final muito esmero... e que não se cria uma obra da noite pro dia. Pelo menos por hora.

Apesar de termos exemplos geniais como Glauber Rocha (Diretor e Roteirista), que tinha domínio sobre roteiro desde a sua criação a sua finalização, para o roteirista nato é diferente. Deve - se desapegar da sua obra no momento que entrega ao diretor, claro que pode ajudar na concepção, mas as idéias de câmera e de interpretação da cena são do diretor.

As preocupações do roteirista começam na criação da história. Por exemplo: “o personagem entra na sala pela lateral, com ar de cansaço, andando descompassado, com a mão esquerda alcança a xícara, na mesa de café, bebe um gole, fixa os olhos na janela”. Numa ação simples como tomar café quantas minúcias não compõem o roteiro. Ainda pode acrescentar as jogadas de câmeras, descrição do local ou ainda um StoryBoard, representação gráfica da cena.

O roteiro conta algo, a alguém, em algum lugar, sobre algum fato histórico ou fictício. Que envolve trabalho de pesquisa, como serão os personagens, roupas, costumes, ou seja, ambientação. Não adianta contar uma história sem descrever o que está a sua volta, faz parte da magia.

Então pegue sua idéia arranje um lugar, um personagem, uma donzela em perigo, um vilão e um conflito de valores bata no liquidificador com uma colher de borboletas, com pitadas de sal, açúcar e pimenta... quem sabe um manjericão, para  dar um sabor, mas antes, pesquise muito sobre o que irá escrever e assista muitos filmes para ter conhecimento e estrutura de criação, pois o roteiro não é receita de bolo mas é tão saboroso quanto.


Mário Luiz
Roteirista - Coronel Claquete

sábado, 2 de abril de 2011

Documentários brasileiros no Hot Docs!

Olá Claqueteiros!


Vocês já ouviram falar no Festival Hot Docs? Ainda não?!


          Bem, o Hot Docs é o maior festival de documentários da América do Norte, ele acontece anualmente em Toronto, no Canadá. Sua primeira edição aconteceu em 1993 e foi produzido pela Canadian Independent Film Caucus. Neste ano, o evento vai começar no dia 28 de abril e, entre outros 43 países, o Brasil também terá trabalhos para apresentar, o anúncio foi feito no último dia 28. "O Samba Que Mora em Mim", de Geórgia Guerra-Peise e "Vale dos Esquecidos", de Maria Raduan foram selecionados para o evento. Além das produções brasileiras, "El Mosca" (Bulmaro Osornio) do México, "Pequeñas Voces" (Jairo Eduardo Carrillo e Oscar Andrade) da Colômbia e "Empleadas y Patrones" (Abneer Benaim) do Panamá participarão do evento que abriu espaço para os latino-americanos.


Vamos conhecer um pouco sobre os documentários brasileiros selecionados para o Festival Hot Docs?


"O Samba Que Mora Em Mim" - Georgia Guerra-Peixe

Mesmo que o nome tenha tudo a ver com o samba, o filme trata sobre quem mora na favela da Mangueira. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, Georgia conta que o documentário tinha outro começo, mas foi mudado quando o roteiro já estava todo pronto. O novo início é uma espécie de homenagem ao seu pai e às suas memórias. Sobre a produção, a diretora comenta que a câmera precisava ser discreta para não perturbar o dia a dia da comunidade, as luzes eram suaves, dando o tom de um documentário-poema, como era sua intenção. (Assista o trailler oficial de "Um Samba Que Mora em Mim")


"Vale dos Esquecidos" - Maria Raduan


O documentário relata o conflito por terras em uma região remota do Mato Grosso. Uso de violência e fogo, índios expulsos do seu lugar, posseiros em busca de um pedaço de terra, grileiros invadindo terras ilegalmente, sem-terra esperando as decisões do governo e fazendeiros brigando para manter suas propriedades, tudo retratado no longa-metragem, além de mostrar a vida na Amazônia e a lota do Brasil contra si mesmo. (Assista o trailler oficial de "Um Samba Que Mora em Mim")




Fontes: 


http://osambaquemoraemmim.com.br/blog_pt/?p=227 (Entrevista com Georgia Guerra-Peixe na Íntegra)